- Viram o que
aconteceu na Leopoldo Tavares? Ali depois da esquina, sabem?! Tá no jornal,
mataram um mulher, ela estava grávida! – Exclamava Arthur, exasperado,
desesperado por dar a notícia.
- Eu vi, tá no jornal, é um horror! Um horror! – Maria
respondia.
- Esse mundo em que vivemos não vale nada. – Completava
Marcos.
O assassinato da
grávida se espalhou por toda a cidade; todos horrorizados, manchetes de página
inteira, a polícia invadindo as favelas à procura do assassino. O escritório
naquele dia não falava em outra coisa, o trabalho não tinha mais importância,
era o assassinato e apenas o assassinato.
No dia seguinte e
dois dias após o assassinato, outras centenas de manchetes solucionavam o crime,
a maioria falando em latrocínio, pois o dinheiro da grávida sumira de sua
bolsa. Porém o que todos concordavam, em linhas escandalosas e macabras, era
com a crueldade de tal monstro:
- Dizem que ele foi assaltar a moça, ela não quis entregar e
ele a matou. – dizia Seu Antônio.
- Mas ele precisava chutar a barriga dela até matar o bebê e
ela?! É um monstro! – Marcinha retrucava com pavor em seus olhos.
- E não teve testemunhas? – perguntou Marcos, já de saco
cheio daquela história.
- Parece que não, era madrugada, e se tiver testemunha não
vai falar. – dizia Seu Antônio.
Marcos caminhava
tranquilamente pela rua onde morava na zona norte, voltava do trabalho. Cada
frase, cada sílaba que ele ouviu sobre o assassinato de vez em quando eclodia em
sua mente. Chegou no prédio onde morava, deu um boa noite ao porteiro, pegou o
elevador e entrou no apartamento. Sua namorada, Lúcia, terminava de preparar o
jantar e foi logo dizendo:
- Amor, tava preocupada contigo, esse assassino está a
solta. Vamos jantar!
- Já estou cansado dessa história, e pelo jeito ele só gosta
de matar grávidas. – Marcos, com certa ironia, dando uma basta à história.
- Ai que horror, Marcos! – Lúcia dava fim ao diálogo e
servia os dois pratos.
Marcos estava com
Lúcia há um ano e alguns meses, foram morar juntos por alguma razão que os dois
não sabiam. Era um bom casal, brigavam muito pouco. Marcos a enrolava quanto ao
casamento, o mais perto que chegou de se casarem foi quando Lúcia quase ficou
grávida, se ficasse teriam de se casar pelos pais de Lúcia serem evangélicos.
Marcos deu graças a Deus quando deu negativo o exame de gravidez, ela não se
dava bem com crianças; quando ele era criança, não se dava bem nem consigo
mesmo.
Passaram-se duas
semanas e mais uma grávida foi assassinada, dessa vez na rua ao lado da
Leopoldo Tavares. O caso, enfim, esclareceu-se; havia um maníaco solto pela
cidade, e por algum motivo ele matava grávidas. O escritório pegava fogo com
todos exaltados, exalando temor e ódio pelo assassino:
- Isso não pode ficar assim, a polícia tem que pegar logo
esse maluco. Fico com medo quando vou embora, não estou grávida, mas nunca se
sabe... – Arlete dizia essas palavras com certo temor e olhos perdidos, talvez
pensando numa maneiro de ir embora mais cedo.
- Deve ser um desses mendigos que dormem por aí! – a
secretária Thaís acusava demonstrando alguma certeza em seus lábios.
- Isso vai terminar, tenho fé em Deus. – Marcos suplicava
aos céus.
A polícia colocou
não sei quantos batalhões naquela região tentando encontrar o serial killer; revistavam cada bêbado
que encontravam, os mendigos foram levados para abrigos, chegaram até a
revistar os sapatos de alguns homens com características suspeitas a procura de
sangue, pois o assassino matava as grávidas apenas com chutes na barriga.
- Nossa, passaram-se três semanas e nada do marginal, a
polícia não consegue encontrar esse safado... Meu deus! – Lúcia mostrava ao
namorado sua indignação.
- Geralmente nesses casos o culpado está mais perto do que
todos pensam. – Marcos compartilhava com sua namoradinha um pouco do
conhecimento que tirava dos seus romances policiais. Compartilhava seus mesmo
conhecimentos policiais no escritório:
- Esse rapaz deve ser digno de pena, deve ter uma família
ausente e apenas ódio em sua mente atordoada.
- Isso é falta de Deus no coração! – Dizia Maria Célia da
contabilidade.
- Ele merece morrer! – Todos no escritório e a cada esquina
de cidade exclamavam essa frase.
Eram dez e quarenta
e cinco, Lúcia estava preocupada com Márcio. Três rapazes andavam pela Leopoldo
Tavares e avistaram ao longe um homem arrastando uma mulher de dentro de um
carro, ela tentava gritar e não conseguia. O homem arremessa a mulher no chão e
começa a chutá-la, os três rapazes correm para defendê-la, vão aproximando-se e
percebem que era uma grávida. O homem apenas dava chutes em sua barriga. Os
homens chegam até o monstro e o empurram. Um dos três homens era Arthur, que
trabalhava no escritório, que de pronto reconheceu o homem, era Marcos.
Marcos com os olhos vermelhos de emoção, caído no chão, com
um sorriso estranho apenas anuncia:
- Desde minha mãe, odeio todas as grávidas! – Então os três
homens chutaram Marcos até sua morte.
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