O que eu odiei, o que eu combati tornou-se minha vida;
Entusiasmei-me muito rápido, e mais rápido ainda perdi a vontade.
Num ato voluntário de razão desconhecida, como um jejum,
As qualidades se perderam, o que nos mantinha ao mundo teve suas bases fragilizadas.
Tudo o que tinha de humano, de piedoso.
Odeio o que as pessoas creem ser o normal.
Totalmente sem controle.
Sinto falta dos meus quinze anos,
Depois disso apenas fui quebrando minha cabeça, parte por parte,
Até sobrar apenas eu.
O que é saber o que quer e fazer outra coisa?
A sensação de ter algo escorrendo entre as mãos abrasa.
Odeio porque foi o que me restou fazer,
Porque sempre fui hipócrita.
Odeio o que eu nunca fiz.
Poemas, contos e qualquer outra coisa de Daniel Oliveira
26.2.13
20.2.13
XII
Isso e mate,
Preciso desesperadamente saber quem eu sou.
Singelo, barato, sem ordem, descompasso;
Passo - não havia dúvidas há um tempo atrás.
Faltou preparo,
Andar pela fuligem e dar com porta trancada;
Outro tapa, outra ressaca, outro nada.
Odeio esses dias, esses dias em que a vitalidade é nociva.
Tocar algo que inspira respeito.
Entrei no quarto e tinha outra pessoa no meu lugar,
Concentrar em outra dor.
No fim das contas
Tudo isso é terreno fértil;
Algo que mantém a mente, alcança a realidade.
Cada vez mais distante da percepção dos benefícios da liberdade.
Preciso desesperadamente saber quem eu sou.
Singelo, barato, sem ordem, descompasso;
Passo - não havia dúvidas há um tempo atrás.
Faltou preparo,
Andar pela fuligem e dar com porta trancada;
Outro tapa, outra ressaca, outro nada.
Odeio esses dias, esses dias em que a vitalidade é nociva.
Tocar algo que inspira respeito.
Entrei no quarto e tinha outra pessoa no meu lugar,
Concentrar em outra dor.
No fim das contas
Tudo isso é terreno fértil;
Algo que mantém a mente, alcança a realidade.
Cada vez mais distante da percepção dos benefícios da liberdade.
17.2.13
XI
Você sabe, as pessoas estão presas em seus mundinhos de merda,
Fazendo o que não queriam que fizessem com elas,
Apenas se satisfazendo.
Nunca, ninguém nunca mais me impressionou;
Todos enrolando-se nas mesmas coisas, virando os mesmos pães - devorados até os farelos pela trivialidades:
Família, filantropia, literatura, religião, televisão, cinema, futebol, moda, sexo, filosofia, raiva...
Merda... E só há uma maneira de escapar,
Mas é tão duro.
A cara é de bobo ou de idiota.
Fazendo o que não queriam que fizessem com elas,
Apenas se satisfazendo.
Nunca, ninguém nunca mais me impressionou;
Todos enrolando-se nas mesmas coisas, virando os mesmos pães - devorados até os farelos pela trivialidades:
Família, filantropia, literatura, religião, televisão, cinema, futebol, moda, sexo, filosofia, raiva...
Merda... E só há uma maneira de escapar,
Mas é tão duro.
A cara é de bobo ou de idiota.
15.2.13
X (As irmãs que se amavam)
Claudia e Clarisse eram irmãs que podemos dizer possuíam uma
doçura única, desde sempre unidas como unha e carne. Cresceram no Jardim
Botânico, vivendo em meio às bromélias e ortigas. Filhas de Seu Antenor, um
advogado com certo prestígio na cidade; tratavam o pai com uma delicadeza vista
poucas vezes, que certas vezes, ele se sentia uma criança perto delas. A mão
morreu quando as meninas tinham menos que cinco anos e deixou apenas poucas
lembranças.
Seu Antenor era um
bom pai, mas claro que ele preferia Clarisse à Claudia, ele próprio sabia disso
e negava para si mesmo; na maioria das vezes ele conseguia ser imparcial com as
duas, ou ser quase nada parcial com Clarisse. Lógico que ele amava Claudia, mas
amar Claudia era o mesmo o que todos os pais sentem; Clarisse, não. Desde o
nascimento de Clarisse, ele a amou mais que qualquer filha que ele teve ou que
ele poderia ter, Clarisse era Clarisse, e ser a mais nova entre as duas
reforçava o amor que o pai sentia.
Esqueci de dizer que
Antenor tinha certos ciúmes da relação fraternal entre suas filhas, queria que
Clarisse lhe desse mais atenção do que para sua outra filha; Seu Antenor também
negava isso a si próprio, mas era a mais pura verdade. Clarisse era um querubim
na vida de Antenor, como uma segunda mãe. Claudia, por certas ocasiões,
percebia a preferência do pai; como quando no aniversário de quinze anos de
Clarisse viu que seria uma festa maior que os seus quinze anos, e então afirmou
para Clarisse:
- Papai te ama mais do que a mim.
- Deixa de ser louca, Claudia! – retrucava Clarisse.
Num verão, quando as
duas já estavam de férias, Antenor voltava do trabalho, e procurando por toda a
casa suas filhas, foi ao quarto delas, e sem bater na porta, entrou. Nunca
ficou tão branco como naquele momento, ou melhor, todas as cores passaram pelo
seu rosto, quase enfartou. Clarisse e Claudia estavam, as duas na cama, nuas,
num intercurso sexual, e o pior de tudo para o pai – Clarisse fazia o papel de
homem.
Sim, as irmãs eram
incestuosas, já o eram desde quando Clarisse tinha treze e Claudia quinze; um
dia, quando ainda estavam nessas idades, estavam as duas conversando sobre
namoro:
- Claudia, você é a mais velha. Quando se casar não me
abandone, por favor. – suplicava Clarisse.
- Isso não vai acontecer, Clarisse. Não gosto de homens. –
responde Claudia, sem pestanejar.
- Como? – logo após esse espanto de Clarisse, Claudia
abocanhou a boca da irmã, beijo correspondido por Clarisse.
As irmãs se consideravam namoradinhas, um pacto secreto
entre elas. Ninguém tão Claudia quanto Clarisse e ninguém tão Clarisse quanto
Claudia, só assim se pode definir o amor entre as duas.
Então ao ver a cena,
Seu Antenor piscou o olho seis vezes para ter a certeza do que seus olhos viam:
- O que está acontecendo aqui? – balbuciava Seu Antenor. E
repetiu essa pergunta três vezes, queria sair daquele pesadelo o mais rápido
possível.
Claudia, com os olhos esbugalhados, se enfiava cada vez mais
para dentro do cobertor. Clarisse rapidamente se vestiu, e se apressou com um
sorriso nervoso:
- Pai, calma, estávamos apenas brincando.
- Brincando?! Você estava chupando sua irmã, Clarisse! Eu
não acredito... Não acredito. Irmãs não fazem isso... Não, agora a ficha toda
está caindo, Cláudia é a culpada! – com os dedos em riste para Claudia, com os
olhos transbordando um ódio convincente – Você é a culpada, sempre percebi...
Você sempre foi sapatão, e agora quer levar Clarisse para esse inferno! Você
sai dessa casa amanhã, te mando para um colégio interno e nunca mais volta!
Claudia não respondia nada, Clarisse tentou dissuadir o pai,
porém o velho saiu do quarto, batendo a porta, antes de qualquer réplica.
Aquela noite foi a
noite mais dramática na vida de Seu Antenor; aguentou firme a morte do pai e da
esposa, podia aguentar a sua úlcera que àquela hora estava atacando, mas isso
ele não podia aguentar. Passou a noite bebendo gim, sentindo pena de si próprio
e de sua falecida esposa; sabia que Claudia não era a culpada, mas devia acabar
com aquilo e os galhos sempre quebram do lado mais fraco no coração de Seu
Antenor.
Durante a noite as
irmãs se encontraram no jardim da casa pulando a janela, pois o pai as tinha
colocado em quartos diferentes. Claudia chorando de desespero, com a voz
sôfrega:
- Isso não podia ter acontecido. O que será agora?
- Eu vou dar um jeito, Claudia. Vá para o colégio amanhã e
em breve você estará de volta, confie em mim, - disse Clarisse com toda a
certeza do mundo – já tenho um plano.
As duas se beijaram como dois virgens apaixonados e voltaram
para seus quartos.
No dia seguinte de
manhã cedo, o carro já estava na porta para levar Claudia para o internato.
Olhando com uma espécie de raiva, Antenor se despediu da filha e não deixou
Clarisse se despedir, deixou-a trancada em seu quarto. Após o carro partir, foi
até ao quarto de Clarisse e, olhando com uma espécie de amor, disse à filha:
- Agora somos só nós dois... Tudo ficará bem, minha
filhinha!
- Tudo bem, papai. – respondeu Clarisse, no seu íntimo o
cinismo se necrosara.
Então, às oito e
meia da noite, o pai jantava sozinho quando Clarisse chegou à sala de jantar. E
com a voz triunfante, olhar vingativo, de uma vingança feminina, em bom som
anunciou:
- Eu sempre amei mais Claudia do que a você! Claudia é o
amor da minha vida! – e com o revólver que pegou do armário do pai, atirou
cinco vezes contra o peito de Seu Antenor, que caiu de cabeça no mingau que
comia.
8.2.13
IX (Acho que tudo está doente)
O mundo pode não acabar,
Mas desmorona cá por dentro.
Bucolismo de sua parte,
Parece que estamos vivendo há dois anos;
E escolhemos ignorar os fatos que sucederam,
Assim cada tristeza se torna menos perigosa.
Menos uma pessoa especial;
O lugar que escrevo essas palavras
Me causarão tremor quando, por acaso,
Eu me lembrar de como fomos.
Apenas momentos desagradáveis me são possíveis recordar.
A ternura se tornou um campo minado,
Sinto a doçura ser derramada pela terra batida.
4.2.13
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