30.1.13

VII

  Ascendemos à acréscimos aparatosamente singelos, substituímos as feições de certos vícios, decretamos sermos algo do que temos, fingimos que temos algo do que somos. Não há porta que faça barulho se souber fechá-la. Ainda existe alguém que se respeita? Desassimilamos algo que sem o qual não poderíamos simplesmente ser e ainda assim desconhecemo-nos sob o reflexo de quem algum dia seremos. De todas, essa é mais errônea vereda - humanidade. À procura de valores inatos - parece páscoa.
  E é... Parece um velho estandarte... Essa é a vida como a conheço, um pote frágil sobre outro e sempre há um pedaço partido; levados pelos detalhes, nem tudo o que reluz é ouro. Aparentemente satisfeito e tende ao erro, percebeu que não é bom estar em um lugar que há perigo a cada passo? Como um andarilho em zona de conforto acaba sendo atropelado, como isso e como aquilo enquanto a fila anda e só resta o estômago. Essa é a vida como a conheço.

27.1.13

VI

  Vasta lugubridade, outra canema; então convém ser taciturno, paralelamente escoa inquietude, tive de me comprar de volta tamanhas vezes, e sempre foi muito duro. Expus em meu recato estreitas singularidades que ainda não me permiti divisarem, como utopia só enrusbece onde ninguém é parecido. Olvidei de cada passatempo, mantinha-me e tornou-se pesado.
  Bem agora em apêndice, um homem que não se deixa ser, à parca em cantilena e durabilidade desrevogada. Abstruído por cada lamúria, elegia e pulula pelas últimas réstias, e nem sempre elas são importantes - antes fosse a própria algia, o que nem sempre é interessante.
  Haja visto em que minúcia desencontrei um conjunto de características próprias; falta coesão desproposital, não há porque assimilar. Especular a respeito de cada índole tornou-se prática corrente. Um bom momento para desmistificar?

23.1.13

V

  Não importa em que situação da vida eu esteja, nunca estarei bem comigo mesmo; abatido por razões contraditórias, traste antigo... Apenas não consigo mais... Nada parece como realmente é, sinto como se nunca vivi e o rio que passou ainda afoga o oceano. Eu quero morrer a todo o momento, não quero mais esse espelho. Foi triste quando os pequenos foram embora.
  Não consigo muito bem saber o que sinto por determinadas ocasiões, teria sido melhor - e assim esculpi meu fardo. Um por um os tijolos foram colocados, não faltou gente para construir os andaimes; para mim construí um covil e não há mais culpa ou compaixão, pura hipocrisia, tempo perdido, fracasso. Dor enraizada, revolta, arrependimento. Não vou mais falar dos meus sentimentos profundos.

IV

  Ainda desejo o que já abandonei, passei a cismar pelo o que ainda não experimentei; me permita fugir de tudo o que eu fui e do que não fui. Há uma febre, duas ondas pelas venturas do que me cerne; - sentimentos isolados, ilhados de tal maneira que não carecem de cessar; - desacatado. - não sinto o que acredito, desavio em cada desejo do que eu sinto; impeli-me e não ostento culpa, erradicado foram os últimos tempos, errado por cada transição, auto-traição. - Condicionado.
  Seria melhor não existir? Desesperançoso na única coisa que sei fazer, volúvel sem limites, afoito em demasia, desistindo em certo modo, trope(ç)ando em cada plano de ação impedido de desdobrar-se, contrastante cenário de impulsos, corroborando por tal elã e desistindo em certo modo.
  Desreprimir o que condena, me sinto nu pelas mudanças e quero ter saboreado o que condenava, era melhor ter me afogado por outras bandas.
Minha(e)mente(e)reprova.


III (Às vezes na terra que me habita)



Às vezes você quer ir ao inferno;
Queria ter um ótimo terno
Para nobremente se entorpecer;
E buscar seu auto afogamento
No canto de ninar dos sábios.

Às vezes tento resgatar minhas lágrimas
Entretendo-me nos meus sentimentos odiados,
Para redimir quanto à morte que me adentra.
Eu me tornei meu deserto.

Às vezes quero me acostumar com minha própria metade;
Forjar sonhos e me fundir nas quimeras reais;
Aspirar paixão a cada passo como um câncer;
Ser feliz só por olhar no espelho.

20.1.13

II

  Como um amador integro em manias e dissipo os fatos, desforro-me em algo estranho que, em si, foi meritoso. Um simplório, em teus espaços sinto que tudo é vão; torpe, dissidido ao teu lado, apenas desaprendi e não me permito à retomadas hérculeas. Relevante ter ultrapassado seus antigos passos e continuar na mesma diátese; espesso sem meridional, entreguei-me ao meu próprio acidente.
  Impossibilidades em meu pleito, incoerências por bases sólidas; quero muito o que eu tenho, - como um último disco tocado numa alma - me protejo de tudo o que eu quero. Dê-me dez minutos e posso te embalar, nesse meio tempo eu consigo desistir de veracidades em pompa, habilmente fenece como absconsa. Enterrei.
  Me abdiquei do que ainda estava bruto, extingui no que é vendável; - não sabia que acabei me matando - o que é o repouso? Um dia voltarei? Não há nada pior que a infâmia. Não há nada pior que o passado? Desculpe, eu nunca estive nesses lugares.

I



  Perdi paixão pela vida e as oportunidades tornaram-se escassas como a própria vida. Em algum lugar me esqueci do elo que firmava mente, alma e corpo; coagulei minhas últimas esperanças, e chega um momento em que você descobre que tudo o que te ensinaram não tem mais nenhuma valia e ainda assim seria melhor deleitar-se no desconhecimento, ser apenas uma pessoa.
  Mendigando no auto esquecimento a cada nova semana; sempre que olha no espelho tem algo que quer te matar e por entre os labirintos de tua face tem alguém que queremos esquecer, ainda que sempre te lembrem, e me lembrem de que existiu um passado. Devaneei minhas memórias à uma mundo sem luz, reparti as pronuncias e apaguei delas o significado, posso aprender melhor a rastejar pela ignobilidade. Espalhei-me quando ainda era uma só alma, perdi uma boa parte de minha essência – me refiz em antíteses.
  Algum dia serei o sentido que não tenho mais vontade de solapar, ainda ele sendo minhas últimas hastes – como um perfume que caiu no chão e, desfocado, espalha sua fragrância, preenchendo os últimos espaços. Espero que amanhã não precise mais desse corpo, – e não ser uma gota no oceano – camuflar meu último pedaço onde há luz, não vou mais me furtar.