“Fartaremo-nos hoje, mesmo se não tivermos nada para
amanhã. Depois nos alimentaremos da fome e prometeremos sermos a prudência em
pessoa.” – esse era o lema do velho debilitado em uma cama dura, lancinando
seus últimos suspiros.
Sim, teve um tempo
em que teve bastante dinheiro e, por conseguinte, bastante respeito também. A
mesma vida que lhe deu de berço um lugar pobre e baldinhos para tomar banho,
então lhe dera a chance de saborear o alívio por ser alguém, um tenor com
qualidades anti-heroicas. – Sim, o tempo mostrou que ele foi um anti-herói, com
todas as quimeras e quedas de um anti-herói. – Sua sorte intra uterina tinha
finalmente se apresentado à luz, e a mísera criança dissonante passou a ser um
rei de uma noite para a outra, alagando os sertões com sua voz – a mesma voz
que um dia lamentou-se por existir.
Mesmo se pudéssemos
viver cada segundo de nossa vida, cada efemeridade nos perturbaria de uma forma
ou de outra. Assim como ele tocou a glória repentinamente, da mesma maneira ele
afogou-se no ostracismo, ou melhor, ele cavou sua própria cova com todos os
cuidados possíveis.
“Deve-se entender
que não é possível comprar as pessoas, apenas aluga-las por certo tempo.” –
Atualmente a vida familiar não passa de interesses maculados, assim aconteceu
com esse personagem atemporal – quando ele tinha o dinheiro, seus filhos e
mulheres o amavam; quando perdeu o dinheiro, consequentemente perdeu tudo, até
porque ele fez do dinheiro a base de todas as suas relações. No seu auge, ele
comprava qualquer coisa para as pessoas e humilhava qualquer pessoa; e assim
ele galgou em sua queda, adornando-se com as teias da escuridão; ele foi
perdendo coisa por coisa: fama, dinheiro, filhos, saúde e por fim seu carro.
Sendo chutado numa
casa suja; quem era um rei tornou-se num escravo do fracasso, transpassado por
seus próprios erros. E ele acabou com suas pernas e suas mente, e está deitado
por anos; e aí então, vez ele abdicou da malícia e passou a viver com vinte e
um gatos sem pedir nada em troca, apenas deliciando-se com os arranhões.
E enquanto existir o
vento, ele se fartará com resignação.
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