30.8.13

XL (23/07/11)

Num vinte e três de julho volto às vinte e três horas,
Volto de um festa boa, mas eu estava chato;
Não chato, estava só... estou só como nunca.
Porém não é a isso que escrevo.
Volto cedo pois no dia seguinte seria aniversário da minha vó;
Ela estava eufórica, faria sessenta anos, talvez achasse que nasceria de novo.
Chego então no horário que já citei;
Minha mãe estava chapada de calmantes,
Falava uma porção de merda,
Chegando até a quebrar copo,
Achei que iria acabar com tudo...
Antes fiquei com medo de eu acabar com tudo,
Pois sempre acabei com as festas de família.
A inveja que ela sente por sua irmã e, quiçá, o ódio que sente por mim estavam visíveis a olho nu.
Então comemos o bolo,
Todos foram dormir,
E aqui estou eu mais só do que nunca.

24.8.13

XXXIX (Tanta solicitude em um soneto)

Ela chapiscou o oceano em minha face,
Sentei perto do ralo e quando dei conta ela tirava as minhas medidas;
Levou-me ao banheiro e beijou como homem, pendurou no ombro uma flor
E o seu medo não tinha rosto. Repouso em seu colo, deduzo a cor por pura paranóia.

Encosta em minha cabeça um caderno, suando e   
Ao mesmo tempo é frio. Crio que está dura moldar.
Sumiu bem devagar, levou café,
Quebrou o piso com um salto. 

Me mostra sua virilha,
Retira o ar que já não tinha,
Entorpece no meu gosto.

Dependia de uma sina,
Era tão menina,
E estava morto. 

15.8.13

XXXVIII

O filho é meu, mas poderia ser de qualquer um.
A minha suplica pode ser a súplica de qualquer um.
Essa tempestade não fui só eu que fiz.

Me odeia, mas poderia odiar qualquer um.
Minto e poderia ser qualquer mentira.
Eu leio sacanagem. STOP numa placa e sensação desleixada.

E se para de fazer algo que faz parte do ser.
Sem prós e sem contras, apenas. Apego.
Desinteresse.

7.8.13

XXXVII

Mesmo não apresentando perigo, não significa que esteja equilibrado.
Bem, não me importar mais foi a resposta, minha crítica,
Uma crítica deliberada a mim mesmo.

Algo belo em nossas mãos,
Só isso basta na sede de saciar,
O que não tem limites e nem nunca terá.

Não posso deixar na minha cabeça as minhas falhas.

16.7.13

XXXVI (Não quero mais ser eu)

Quando sento no sofá, não quero mais ser eu;
Quando penso em algo, não quero mais ser eu;
Enquanto eu me perturbo, não quero mais ser eu;
No dias de chuva, nas noites quentes, eu não quero mais ser eu;
Sozinho com mil cegos, não quero mais ser eu;
Sangrando no banheiro, não quero mais ser eu;
Escrevendo isso, não quero mais ser eu;
Raivoso e em paz, não quero mais ser eu;
Fazendo o que não quero e pelo tanto que quero, não quero mais ser eu;
Cansado de ser livre, prostrado na cadeira, não quero mais ser eu;
Em meio ao protesto, procurando pelo resto, não quero mais ser eu;
Lembrando do asfalto, do chocolate errado, não quero mais ser eu;
Cabelos cortados.
Fazendo o que não quero e pelo tanto que quero, não quero mais ser eu.

Eu não sei - falhei, falhei, falhei.
Como homem, humano.
E principalmente como eu.

11.7.13

XXXV (Revolta)

Eu só queria te passar um pouco da minha indignação,
Não é tão difícil assim se você parar para pensar,
Ou é.

Não aceito o que me deram,
Não queria o que me dão.
É melhor parar de se adaptar tão fácil.

Que a alma, simplesmente, caiba.

25.6.13

XXXIV (Talvez, amor)



Nossos olhos se perdem
E o tempo torna-se infinito;
E os operários tecem
Bugalhas de vento que eu nunca vi.

E as nuvens se percebem Mateus Baltasar
Chovendo águas vinda de Paris;
Nossos olhos voltam a se encontrar,
Minha mão alisa tua face e diz coisas que nunca senti.

Apenas com você, minha língua rude
Não blasfema os anjos;
Então, eu te amo amiúde.

Nossos corpos molhados por essa chuva que nunca cessa;
Um cachorro nos olha e não sabe onde eu termino e tu começas;
A relva se desdobra
Para produzir outras terças como essa.

E eu coloco em teu pescoço uma corda
Que quanto mais aperto,
Mais afundo;
E meu coração se esbanja na terra onde pisastes teus pés.

Apenas com você, aureolas possuem significado;
Com tanta beleza até Deus se confunde;
Então, eu te amo amiúde.